Menomena, Friend And Foe.

Porque há música em espiral.

Por estes dias o kitsch vai sendo a parte mais visível da música que por aí, algures, se vai fazendo.
Novidade!
Onde?

Friend And Foe é um álbum desconcertante, construído de forma hábil, recheado de subtilezas que renovam a curiosidade a cada audição. A viajem é feita através de um universo sonoro deliciosamente surpreendente.
Menomena consegue em
Friend And Foe
uma pequena síntese sonora (processo digno de nota nos dias que correm) e deixa um sem número de possibilidades de criação num imaginário longe, muito longe, do banal.

Air aid [mp3]

Weird [mp3]

Evil Bee [mp3]

Ontem, ali, no cruzamento, assisti a um acidente deveras impressionante. Descendo a rua em paralelo o hipopótamo, que se fazia transportar numa viatura ligeira, não respeitou o sinal de stop e daí à colisão com a girafa que trabalha para a cervejeira foi um instante. Um caos!
Se não fosse o tamboril tinha o dia estragado.


PS: algum tempo depois acordei.


Vendem-se paradoxos como poções em estado larvar. Criam-se antagonismos em fragmentos sedimentados por estados de tempo volúveis. Crua é a passagem pelas paisagens áridas. Decrépito será o ser lentamente consumido por endosmose.

PS: Acabaram de ler um embuste. Por favor não reler.

The Chemical Brothers



We Are The Night, 2007.




myspace

A Noite

.

Chegou... suave de descrição invulgar, nem sempre desejada, mas capaz de nos fazer partilhar na envolvência dos silêncios.
Aprecio-lhe a liberdade, a pontualidade inconsciente, a serenidade com que afaga a ideia.
Com cordialidade convida à viagem.
Nós?
Aceitamos ou não.
Escolhemos ficar subjugados ao dia ou viajar através dela.
Por vezes, aparece e pronto. Recria-te mortal, supera-te, quando a manhã chegar terás tudo o resto. Principalmente o que te faz desejar a noite.
O desafio é saber até quando somos capazes de lhe resistir. Não resistimos. Rendemo-nos perante a curiosidade que desperta no espírito. Janela que se vai abrindo, revelando formas por entre as sombras, em tonalidades que aqui e ali formalizam incondicionais divagações.
Se assistimos à sua partida lamentamos a fugaz passagem, porque lhe admiramos a intensidade.

Dezembro, 2005.

Van Gogh, Starry Night, 1889.

O Jardim


Subindo uma escada em espiral o homem aproxima-se de um estreito corredor onde gravitam objectos pilhados. O seu final anuncia-se através de uma luz intensa com origem num salão prateado de tecto cor de chumbo. Aí deposita tudo o que o liga ao real para que não lhe seja vedado o acesso ao jardim.
Despojado do que o afasta da sua essência desce a longa escada de ferro que o conduz a um portão enegrecido, entra, e contempla a generosidade com que se depara.
O jardim resplandece de sumptuosidades, revela segredos, proporciona utensilagens para novas criações libertando o olhar até ai rendido ao pensamento. […] Os percursos que encerra apenas encobrem a sua infinitude.

Dezembro, 2005.

O Olho e o Espírito

«Imerso no visível graças ao seu corpo, também ele visível, aquele que vê não se apropria daquilo que vê: apenas se abeira com o olhar, acede ao mundo, e por seu lado, esse mundo, do qual faz parte, não é em si ou matéria. O meu movimento não é uma decisão do espírito, um fazer absoluto que decretaria, do fundo do isolamento subjectivo, qualquer mudança de lugar miraculosamente executada no espaço. Ele é a sequência natural e a maturação de uma visão. Digo de uma coisa que ela é movida, mas o meu corpo, ele, move-se, o meu movimento desdobra-se. Ele não está na ignorância de si, não é cego para si, resplandece de um si… O enigma consiste em que o meu corpo é ao mesmo tempo vidente e visível. Ele, que mira todas as coisas, pode também olhar-se, e reconhecer então naquilo que vê o «outro lado» do seu poder vidente. Ele vê-se vendo, toca-se tocando, é visível e sensível para si mesmo. É um si, não por transparência, como o pensamento, que não pensa o que quer que seja sem o assimilar, constituindo-o, transformando-o em pensamento – mas um si por confusão, narcisismo, inerência daquele que vê em relação àquilo que vê, daquele que toca em relação àquilo que toca, do que sente ao que é sentido – um si. Portanto, que se compreende no meio das coisas, que tem um verso e um reverso, um passado e um futuro […]»


Merleau-Ponty


Polytechnic, Down Til Dawn, 2007.

Still Spinning [.]


adiar, transferir para outro dia
dia, ocasião; momento
momento, o mais breve período em que o tempo se pode dividir


|_|-Dan Flavin-|_|

A Terra dos Quadrados

Na terra dos quadrados viviam quadrados e quadradinhos de todos os tamanhos. As casas, as praças, os carros eram quadrados. Tudo era quadrado. Quatro quadrados mais pequenos juntavam-se para formar um quadrado maior. Cada quadrado podia ser dividido em quatro quadradinhos.
Um dia o Quadrado-Mor estava sentado à secretária quadrada, numa sala absolutamente quadrada. O telefone tocou e ele estendeu o vértice mais próximo e atendeu. Ouviu uma voz aflita que não reconheceu:
- Está? É do gabinete do Quadrado-Mor?
- Sim, é o próprio.
- Desculpe ligar-lhe. Sou o chefe da esquadra do 4º quadradão. Fomos chamados porque apareceram aqui no quadradão dois tipos muito estranhos. Nunca vi nada assim e achei que lhe deveria comunicar imediatamente.
- Estranhos como? – perguntou o Quadrado-Mor que não estava a entender nada.
- Com uma forma nunca vista. Não dizem coisa com coisa. Dizem ser triângulos rectângulos isósceles, o que quer que isso seja.
- Está bem! Está bem! Traga-mos cá – desligou.
O dia estava a começar mal. Sentiu uma dor de cabeça alastrar na superfície quadrada. Tomou um comprimido quadrado e esperou.
Passados cerca de quatro vezes quatro minutos, marcados pelo relógio quadrado dependurado na parede quadrada à sua frente, ouviu uma sirene de um carro da policia. As ondas quadradas propagavam-se nas quatro direcções, eram reflectidas pelas quatro paredes da praça quadrada onde se situava a Quadratura-Mor e entravam em ressonância no centro da praça, onde o ruído era insuportável. Estava por isso completamente deserto. A sirene calou-se. Passados quatro minutos bateram à porta quadrada: quatro pancadas.
- Entre! – ordenou o Quadrado-Mor.
Entraram. O chefe da esquadra acompanhado de um subalquadro fez-lhe a continência regulamentar, deslocando a mão quadrada sobre dois dos lados contíguos de um quadrado, unindo o ponto equidistante dos seus vértices à cabeça.
- Posso mandá-los entrar? – perguntou.
- Claro! Não foi para isso que veio?
[…]
- Aqui estão eles – olhou-os com espanto e, pela primeira vez desde há muito tempo, não sabia o que fazer.
Que raio de coisa era aquela?
Esperou que o chefe de esquadra dissesse mais alguma coisa.
- Interroguei-os mas não compreendi nada do que me disseram, É como se falassem uma outra língua. Talvez gostasse também de os interrogar.
O Quadrado-Mor, colocou-se à frente dos dois indivíduos, olhou-os e perguntou com alguma brusquidão.
- Quem sois vós?
- Somos dois Triângulos Rectângulos Isósceles. Vimos da terra dos Triângulos Rectângulos Isósceles.
- Terra dos Triângulos Rectângulos Isósceles! Onde fica?
- Não sabemos. Estávamos na grande praça triangular rectangular isósceles, os dois a passear, e de repente abriu-se à nossa frente um grande buraco negro triangular que nos aspirou. Perdemos a consciência e acordamos rodeados de seres estranhos, desculpe, quadrados que nos olhavam espantados e que quando acordamos nos começaram a insultar e a maltratar […].

Manuel Manchinha, A Terra dos Quadrados, Edições Salamandra, 1998.



Monte Shelton, Reflecting Pool, 1999.

A Origem da Obra de Arte

«[…] é pela obra que se conhece o artista, ou seja: a obra é que primeiro faz aparecer o artista como um mestre da arte. O artista é a origem da obra. A obra é a origem do artista. Nenhum é sem o outro. E, todavia, nenhum dos dois se sustenta isoladamente. Artista e obra são, em si mesmos, e na sua relação recíproca, graças a um terceiro, que é o primeiro, a saber, graças àquilo a que o artista e a obra de arte vão buscar o seu nome, graças à arte.

[…] O que a arte seja, tem de apreender-se a partir da obra. O que seja a obra, só o podemos experenciar a partir da essência da arte.


[Experiência Estética]


Há pedra no monumento. Há madeira na escultura talhada. Há cor no quadro. Há som na obra falada. Há sonoridade na obra musical. O carácter de coisa está tão incontornavelmente na obra de arte, que devíamos até dizer antes ao contrário: o monumento está na pedra. A escultura está na madeira. O quadro está na cor. A obra da palavra está no som da voz. A obra musical está no som.


A coisa e a obra


A pedra no caminho é uma coisa, tal como o outeiro no campo. O cântaro é uma coisa, tal como a fonte no caminho. E o que se passa com o leite no cântaro e com a água da fonte? Também elas são coisas se, com razão, se chama coisas à nuvem no céu e ao cardo no campo, à folha no vento de Outono e ao açor no bosque. Tudo isto se deve, de facto, chamar coisa, se com este nome se designa o que não se mostra a si mesmo […] a saber, aquilo que não aparece.»


Martin Heidegger, A Origem da Obra de Arte, Edições 70, 1992.

VI
.

Não Existir

Dreamtigers

Na infância exerci com fervor a adoração do tigre: não a do tigre fulvo dos camalotes do Paraná e da confusão amazónica, mas a do tigre raiado, asiático, real, que só podem enfrentar os homens de guerra sobre um castelo, em cima de um elefante. Costumava demorar-me sem fim ante uma das jaulas do jardim zoológico; apreciava as vastas enciclopédias e os livros de história natural pelo esplendor dos seus tigres. (Recordo-me ainda dessas figuras: eu, que não posso recordar sem erro a fronte ou o sorriso de uma mulher.)
Passou a infância, caducaram os tigres e a sua paixão, mas estão ainda nos meus sonhos. Nessa napa submersa ou caótica continuam a prevalecer. Senão veja-se: adormecido, distrai-me um sonho qualquer e logo sei que é um sonho. Costumo então pensar: isto é um sonho, uma pura diversão da minha vontade, e já que tenho um ilimitado poder, vou causar um tigre.
Ó incompetência! Nunca os meus sonhos sabem engendrar a apetecida fera. Aparece o tigre, isso sim, mas dissecado ou débil, ou com impuras variações de forma, ou de tamanho inadmissível, ou muito fugaz, ou parecido com um cão ou um pássaro.

Jorge Luís Borges, O Fazedor, Difel, 1985.

Sem título

Não foi feito nenhum comentário até agora.

Soulsavers: It's not how far you fall, it's the way you land, 2007.

Myspace

Revival [video]

Acorda. Vá, acorda. Tens que escrever.
Come, bebe qualquer coisa.
Precisas de uma ocupação socialmente estabelecida. Mas primeiro acorda. Antes que vás directo a uma leitura mecanicista.
Se ninguém mexer em coisa alguma permaneceras na tundra. Casulo de seda. Agora acorda.
Já sentes?
Então? Ficaste pelo conjunto vazio! Assim o espaço não adquire camadas heterogéneas e nada se sedimenta. Se não quantificas não precisas o volume. Se não classificas como reconheces os signos?
Vá, acorda. Tens que escrever.

Lei da compensação

Mais 2 páginas e 0/5.

Paul Klee, 1929.

Repeat

Fugazi: The Argument, 2001.

The kill

V

A imagem "http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/62/F1_white_flag.svg/800px-F1_white_flag.svg.png" não pode ser mostrada, porque contém erros.

Mais zero páginas.

07.10.07

The Heinrich Maneuver

Uma outra forma de aprender o abecedário

(A/A)-B-C!-d-E-F-G-H-I-J-K-L-(M/M)-

(N/N)-O-(P/P)_R-S-T-U-V-W_Y-Z.*

*Algumas letras são repetidas para que fiquem bem sabidas.

A ordem dos livros

«[…] ler é sempre ler qualquer coisa. Sem dúvida que, para existir, a história da leitura tem de estar radicalmente separada de uma história daquilo que se lê: “ O leitor emerge da história do livro, onde esteve durante muito tempo confundido, indistinto […] O leitor considerado como sendo o efeito do livro. Hoje destaca-se desses livros, dos quais se pensava que ele era apenas a sombra. Eis que a sombra se solta, agarra o seu relevo, adquire uma independência.” Essa independência criadora não é uma liberdade arbitrária. Está limitada pelos códigos e pelas convenções que regem as práticas de uma comunidade de dependência. Está também limitada pelas formas discursivas e materiais dos textos lidos.

“Novos leitores criam novos textos cujos novos significados dependem directamente das suas novas formas.”»

Roger Chartier

Porque tudo é nada.

/A-(c+c.[c.])-+D-(e.+e)-E*.-G\infty»-:...
_____________________________
/.--H-----i-----+---J---J.--*L-----|-...
_____________________________
/.M-m-N-O-+92,391 km²-*.(S;S)-T-(U=U)'-...

mineral+mineral+[...]=rocha

............................. Feldspato......................................... +

Micas(pretas, ou brancas)

.....................................................................................+

.................. Biotite +

...................................... quartzo

...........................................................=
granito

cristais de quartzo

IV


de momento...