Hoje é feriado.
Escorrem-se as palavras. Agregadas repetições que banalizam o dia.
Os adjectivos gravitam em torno de personagens que se encontram, em cada ano que passa, mais afastadas das propaladas ideias. E poucas foram as que passaram disso mesmo.
Talvez seja mais fácil de encaixar outros feriados, pela distância dos factos (para o bem e para o mal), pelo desaparecimento terreno das personagens (o que favorece a mistificação).
Talvez a melhor solução passasse por acabar com os ditos e permitir que cada um usasse esse tempo quando e como muito bem entendesse.
Mas não pode ser.
Não podemos perder a identidade nacional, nem deixarmos de ser carneirinhos que aceitam os factos e que nada, ou quase nada (do que realmente interessa) questionam.
Mais um dia de feriado, mais uma comemoração, mais um reforço da inscrição, mais um passo para que nos acomodemos na sombra de uma revolução.
Uma esmola para quem não se penitencia*
O bom não seria passar a vida a escrever. Por vezes transforma-se numa estopada que deriva em dormência. Porque as personagens do passado, que alguém deseja que se considerem como vivas e absolutamente reais, também se fartam de ser enumeradas. Porque não gostam que, acerca delas, narrem histórias sucessivamente diferentes. Nesses momentos silenciam-se e não alvitraram as melhores histórias. Ficando assim o autor sem o devido acesso à competência de escrita. E nada pode ser mais ultrajante do que a falta de competência. Seja lá em que raio for.
Interessante seria o bom conciliar-se, ou reconciliar-se, com o óptimo e que em conjunto fizessem com que o mapa astral me incrimina-se com o euromilhões. Ou não!
Sim, porque na vida de um euromilionário a escrita não oferece momentos de aborrecimento. Porque um euromilionário tem tv cabo e coisas…
Pois é!!!
Se estiver farto de zappar pode sempre fazer coisas, porque é euromilionário.
Mas se surgir o cibermilionário!!! Terá ele super poderes que lhe permitam o upgrade da essência? Pronto a caminhar em direcção ao autómato, por enquanto fantoche.
O melhor mesmo seria escrever algo diferente, distinto, com uma grande percentagem de variação em relação à média.
Mas hoje não é, nem amanhã será, possível.
* Dos muitos contra-sensos que já escrevi jamais enformei algum que fosse tão merecedor de generosa repulsa.
Advertência: Para aqueles que são metódicos e começam por ler o que deve ser lido aconselha-se que avancem sem hesitar para o post seguinte.
Sabedoria popular
As palavras, ou conversas, são como as cerejas, vêm umas atrás das outras.
Gosto da expressão e pensei apenas partilha-la, mas o google contribuiu para uma outra ideia.
Em que sentido(s), através da justificação da afirmação, é que vamos dando corpo à representação?
E o resultado da pesquisa foi:
«As conversas são como as cerejas. No regresso a casa, vem umas atrás das outras»;
«As conversas são como as cerejas....aguçam o apetite até ao fundo do cesto...»;
«As conversas são como as cerejas, e por vezes dão frutos.»;
«As palavras são como as cerejas... e a história delas também.»
o Enredo
O destino gosta das repetições, das variantes, das simetrias. Dezanove séculos depois, no sul da provincia de Buenos Aires, um gaúcho é agredido por outros gaúchos e, ao cair, reconhece um afilhado seu e, com lenta surpresa, dirige-lhe uma mansa recriminação (estas palavras são para ouvir, não para ler): Pero, che! matam-no e não sabe que morre para que se repita uma cena.
Comunidades de leitores
Tia Zulmira era uma mulher irrequieta. Na longevidade dos seus setenta e muitos anos fitava o desassossegado neto julgando-o perdido num lugar pós-moderno, mas órfão de modernidade. O puto, vadio, achava-se reguila e não era presa fácil para um grupo de avaliadores compulsivos. Lá, na E.B 2/3 da Lustrosa, as gentes eram esmeradas quando se aproximava o desfecho de mais um ciclo avaliativo. O afinco que demonstravam nesses momentos, mais imposto que devido, contrastava com a degradação pedagógica que assolava a loja no restante vazio. Mas para o puto, sólido repetente, nada disso interessava. Gostava era de jogar à bola, galar umas pitas e pintar os corredores da Lustrosa.
A vizinha Clotilde, senhora de recato, esperava muito da netinha. A pequena denotava algumas dificuldades de aprendizagem, mas nada que a avó não achasse que a comprovada dedicação da cachopa não compensasse.
O ano terminou. A miúda reprovou e o puto passou.
Os avaliadores já não suportavam mais os sucessivos desmandos que sofria, aquilo que deveria ser, a inquestionável autoridade. Visto que individualmente o iam reprovar, decidiram juntar-se para em uníssono o poderem aclamar.
Agora, passeia-se pelos pré-fabricados da Secundária da Lustrosa.
A gerência lamenta mas não tem qualquer justificação para o post anterior. O melhor é acabar de ler “A ordem dos livros” do Chartier e o “Diário de um Louco” do Gógol na esperança que contribuam, é claro, para que tal facto não se repita (e já agora sempre dá aquele ar de pseudo-intelectual).
Será que sucede?
Vou é continuar o que estava a fazer porque já passei a década de 40 e por lá os factos repetem-se de uma forma compulsiva. Quer dizer, por lá não, porque isto não passa da uma representação do real, que por sinal também é uma representação. E assim sucessivamente…
Espero que a geografia me ajude a explicar o conjunto fenomenológico (peço desculpa por algum tipo de imprecisão conceptual, mas não me refiro a Merleau-Ponty, nem ele é geógrafo – este é mais um momento pseudo-conceptual) é que a história neste vasto conjunto de representações apenas me diz que tudo se repete invariavelmente.
Lógica*
Hoje vamos aprender uma coisa nova. Vá, digamos que uma coisa diferente. Bem, se calhar é surpreendente. Bom, nem sei, queria dizer tanta coisa, mas, sei lá, falta-me a utensilagem mental.
Então é assim:
Hoje vamos tentar construir frases.
Então!!! Estão a gostar?
Cada um inventa uma personagem. Não tem que ser muito rebuscada, sei lá, o importante é atribui-lhe uma percentagem de saber, saber ser, e saber fazer. Depois… bem, depois é só forçar a junção de alguma terminologia, ou expressões capciosas, imiscuídas com conceitos. Depois é usufruir (dependendo da criatividade) da construção de frases emblemáticas.
Agora é só experimentar.
......................................Jovem Autocrático...................................
.................... .Ciência .................................Figuração.....................
.................Maresia....................................... Sincrónico.................
Amor aos pedaços.........................................Pai Natal...............
..........Geomorfológico................................... Bonito.......................
.................................... ...Subjectividade........................................