Deambulações ( pós natal)

Dividido entre a leitura e a escrita, que contribuem para alimentar esse insaciável apetite por deambular, cedo mais uma vez à divagação de caçar umas quantas ideias que sobrevoam o pensamento. Avanço no sentido de formalizar o momento, socorrendo-me para tal da arte da escrita.
É uma daquelas tardes em que a necessária busca de tranquilidade apenas é superada pela vontade de abarcar tudo o que transparece ao olhar.
Vamos lá, mais uma vez. Nada de recomeços. Vamos prosseguir sem precisar de esperança ou sorte. O acto é consciente. É só levantar a cabeça e respirar bem fundo.
Quais os momentos efémeros que resistem na memória?
Muitos, por sinal. Uns quantos arquivados, outros transformados e aplicados no quotidiano, de forma consciente, ou aparentemente transcendente, e mais uns quantos, que inexplicávelmente inundam a mente, confundem a vontade e reduzem o descernimento.
E então, como mitigar o espirito?
Procurando estar consciente das nossas necessidades, das representações, das limitações da vontade, para que seja possível: criar, acreditar e presistir. Para que seja imanente o construir.

Realismo e Neo-Realismo

“[…] A diferença real que existe entre todo o realismo passado e o realismo de hoje – o realismo humanista – reside essencialmente no seu comportamento em face da realidade. O realismo passado tem os seus alicerces na contemplação, na recepção e como tal é essencialmente descritivo. A realidade é nos seus aspectos encarada tal qual é, a nota dominante é a sua cópia, a sua descrição. O realismo passado como descritivo é em face da realidade essencialmente passivo, passividade esta que é um produto da sua própria estrutura contemplativa. Limita-se à contemplação e como tal a sua arte é uma arte de contemplação. É sobre este ângulo que, por exemplo, a obra de Balzac deve ser observada.
O realismo humanista, em face da realidade, é essencialmente activo. É contemplação e acção. Toma contacto com a realidade e age dentro dessa realidade. É acção pela arte. O que interessa ao realismo humanista não é a natureza isolada. É a natureza do homem. O homem deixa de ser - uma onda no oceano do movimento eterno da materia - para ser um ser consciente em luta com a própria materia. Não vê o homem pelo prisma da natureza, passivamente. Vê a natureza pelo homem, activamente. Dá-se uma intervenção do artista na vida como artista. Em face da vida real alienada destrói, porque quer construir. O realismo humanista não repele a faceta contemplative estagnante do realismo passado, naturalista. Envolve-a e supera-a. Envolve-a, porque a considera necessária na sua própria formação como campo de actividade, como ambiente. Supera-a, porque constrói, porque edifica, porque quer pela sua acção contribuir para a realização do humanismo na vida real, fulcro de realização de todo o verdadeiro humanismo. […]”

Mário Roma - "Realismo humanista. Extratos de umas notas", in : O Diabo, 235, Lisboa, 1939, p.3

23 de Dezembro, 2005

16:58.Início de mais um regresso, este carrega o simbolismo do natal, não lhe reconheço o espírito, é apenas mais uma viagem, uma despedida assumida da Lisboa de 2005.
O dia apresenta-se no seu acto final, sobrevivendo apenas alguma luz, por entre pesadas nuvens cor de chumbo.
Bem melancólico o cenário da partida.
É a representação possível.





É chegado o dia de mais um regresso. Anseio olhar e sentir a noite na minha cidade.
Espero que esteja um frio bom. Sim, esse que trespassa e chega aos ossos.


Por vezes, a cama assume formas indistintas, mais complexas. É isso que nos torna mais exigentes.


Só precisa de um gin para conservar.
Tónico por favor.


Encontrei o que não devia e li o que não queria. Agora é só esperar que a face indesejada do tempo faça o resto... Bem sei que é conformismo. Isto há dias assim. Bem escusados por sinal.

Coastline

Well, there's a perfect explanation
for the shit that I've been in
as soon as I find out I'll let you know

And if it's any consolation
well, your horse is going to win
cause mine and all the others are just too slow

There's a Coastline
I'd like to go back
and if you don't mind
I'm going to turn 'round in my tracks

It's good to be back
down on the coastline
we lost contact
and I hope that you don't mind

I was trying to save us both some time




Frank Black

Claro que no momento presente poucas letras me fazem mais sentido (ou talvez não) - foda-se - mas não é seguramente melhor por isso.

O melhor é ouvir...

É o momento de desentrelaçar mais uma cama de gato.
O que representa esta face de alienação? O desejo de fuga, ou a sua decifração.

Exemplifiquemos a dita cama.

A Cama de Gato, Guilherme Cardoso, 2001.

Por entre a noite de Vincent van Gogh

Starry Night

Café Terrace

Starry Nigth Over The Rhone

Benvindos.
Por aqui, propõe-se enroscar tudo aquilo que sejam ideias e pensamentos que estejam transviados. Que gravitem na clandestinidade do eu. Ou não...
Mas será acima de tudo um veículo para a divulgação de vontades.