O mundo como representação [1]

A revista Annales anunciava em 1988, uma “crise geral das ciências sociais”, resultado do abandono dos paradigmas dominantes, estruturalismo e marxismo, crise esta, que no entender da citada revista não afectava a disciplina histórica, pois se por um lado o esgotamento das suas aliadas tradicionais e das suas técnicas de tratamento lançavam a disciplina histórica em algumas incertezas, e era com base nesta indecisão que germinavam novos campos de trabalho.
Se nas décadas de 60/70, as ciências sociais como a linguística, sociologia e Etnologia, questionavam a história no seu objecto, importando novos princípios de legitimação, que retirava consistência ao empirismo da história. Esta, respondia com novos temas (rituais e crenças, atitudes diante a vida e da morte, formas de sociabilidade entre outras), que não eram mais que os territórios de algumas ciências sociais. Surgindo então uma história das mentalidades, dedicada ao estudo das aparelhagens mentais que não abandonava o tratamento quantitativo de fontes maciças e seriais, mas que usava técnicas da análise linguística e semântica, modelos da antropologia e ferramentas estatísticas da sociologia. A importância dada à maioria, a confiança na cifra e na série, o gosto pela longa duração, e a primazia concedida ao recorte socioprofissional, eram características herdadas da história das economias e sociedades, o que se pretendia então era a aplicação dos princípios de inteligibilidade já testados em novos objectos.



[1] Parte de um comentário feito ao texto: Mundo como Representação de Roger Chartier.

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