Alerta.

Antecipadamente informado das dificuldades que iria encontrar para conseguir viajar entre as duas maiores cidades do país, decidi enfrentar o dilúvio e dirigi-me para a estação do Oriente.
Podia-me confirmar se a linha do norte continua cortada?
Confirmo.
E quando será restabelecida?
Está suspensa.
Qual é a probabilidade de reabrir ainda hoje?
Está suspensa (retorquiu o homem, defendendo-se através da repetição, enquanto encolhia os ombros e abanava a cabeça).
Pois… e agora qual é a alternativa… autocarros!!! Vamos lá comprar um bilhete…
Ahhhhh!!! Apenas vos digo que já vi mercados melhor organizados. Por momentos pensei que Lisboa se ia afundar (não foi um desejo apenas uma visão), tal era o desespero das almas que por ali flutuavam.
Queria um bilhete para o Porto.
Só às nove.
Pode ser…e lá passaram mais alguns minutos de confusão até ter direito à minha garantia de evasão.
Aqui tem o seu bilhete, vá depressa, teve sorte porque ainda vai nos das sete.
Nos das sete! Bom (faltavam vinte cinco para as oito).
Chegado à paragem o cenário de entrada no autocarro tinha algumas semelhanças com o de saída do Titanic.

Serão os dias de alerta laranja uma espécie de dia das mentiras ou das bruxas com laivos de Carnaval? Na versão: hoje tenho desculpa para fazer o que me apetece, principalmente figuras tontas, sem direito a censura.

E foi assim que tudo sucedeu, lá deixei Lisboa no das sete quando passavam cinco das oito.

3 comentários:

Isobel disse...

No mínimo, surrealista...

Ricardo Revez disse...

Esqueceste-te do primeiro capítulo da história. Aquele em que andastes com um lisboeta desajeitado à chuva, em que quase sairam da Gulbenkian sem ver a exposição completa do Souza-Cardozo e outras peripécias.
A propósito, o lisboeta especialista na condução de guarda-chuvas chegou a casa com uma bota cheia de água. Mais um bocadinho e todo um ecossistema se criava lá dentro, com plancton e tudo...

Midas disse...

Meu caro amigo já te disse que não acredito nas coisas do oculto, mas ninguém me tira da cabeça que a perseguição chuvosa desse dia foi, pelo menos, um fenómeno bizarro.