O direito a ser informado e o dever de informar.

Como resistir aos danos informativos provocados pela imprensa gratuita que se tem difundido de uma forma mais intensa nos últimos tempos em Portugal.
O princípio de ser informado gratuitamente, aparentemente, não é mau, mas, o preço a pagar é demasiado elevado. Refiro-me à quantidade abusiva de publicidade, à forma simplista de abordar a noticia, onde quase tudo se reduz a um conjunto de banais curiosidades, que gravitam no universo das coisas absolutas. Forma menor de representar os fenómenos, onde o difícil é discernir entre o essencial e o acessório.

O problema não reside na gratuitidade do produto noticioso, pois não faltam exemplos de jornais pagos que transformam a notícia em novela e vendem o boato por notícia. Importante é saber onde reside a fronteira entre a notícia, factual, objecto que pode ser trabalhado pelo jornalista segundo princípios metodológicos e deontológicos, e o entretenimento, onde a noticia não é mais do que um meio para chegar a uma especulação lucrativa.

A questão é relevante porque existem demasiadas pessoas a consumir, inconscientemente, produtos de entretenimento como se de noticias se tratassem.

7 comentários:

Anónimo disse...

É inverter o Princípio subjacente, Midas. O Princípio, que nos conduziu à incapacidade para discernir entre o essencial e o aparente. Digo eu.

.:GM:. disse...

mas quem disse que a notícia é gratuita? Paga-se para se noticiar o que interessa somente... seja verdade ou mentira...

Midas disse...

«O principio, que nos conduziu à incapacidade para discernir entre o essencial e o aparente», provavelmente existe desde que nos organizamos em sociedade e deriva da nossa incapacidade de distinguir o real, as diferentes formas de representar.
Ao aceitarmos o real como único, absoluto, estamos a cair no engodo de acreditarmos numa só verdade.Problema que se agrava, em muitos casos,pelo desconhecimento da propria realidade individual.
Se nos deparamos com diferentes verdades, realidades, sem meio de comprovar a veracidade de nunhuma delas o mais provável é optarmos pelo aparente, o que é mais difundido, mais fácil de perceber. Colocar questões, mudar, pode ser muito incómodo. A evolução não resulta certamente de desconhecimento.

A notícia acenta em factos, podes pagar para que estes tenham uma interpretação que te seja favorável, para inventar noticias mas, isso são interpretações, distorções dos factos, que funcionam muitas vezes como contra- informação.
Que exista qualidade de informação, para diferentes utensílagens mentais, vendam-se factos, noticias, ainda há quem o faça...
Na verdade nada é gratuito, provavelmente apenas uma amizade genuína deverá ser gratuita.

Anónimo disse...

«(...) existe desde que nos organizamos em sociedade (...) distinguir (...) as diferentes formas de representar.» Fiquei a pensar nisto. Concordo, mesmo não estando certa de estarmos a falar a mesma linguagem, ainda que, com as mesmas palavras. então, talvez o princípio organizativo dessa sociedade ( q é a nossa) tenha de ser reformulado. pegando no seu texto, diria que esse princípio é o que chamou de «real como único». este é o princípio errado.
O terceiro parágrafo não compreendo, mas tb não tem que explicar. Fico a pensar nele. É que me parece contraditório em relação ao que afirma antes. Múltiplas verdades é que nos fazem crescer. Permita-me uma analogia. "Múltipla verdade" é uma "cama de gato"; é complexa, porque é um entrelaçado conjunto de partes que formam o todo, que a "cama" é. Faz crescer, enquanto a (des)construo. Ginastica o pensamento.
Mudar é, com muita certeza, incómodo. Em relação a isso, não tenho dúvidas.

A amizade é uma forma de amar, mas isso é outra conversa.
Vou-me calar.

Midas disse...

Parece-me essencial deter a utensíagem mental necessária à interpretação de múltiplas verdades, é com este jogo de experiências que construímos a nossa própria representação. Dai eu referir a ideia, no final desse parágrafo, de que o incomodo de colocar questões, não o fazer, perpetua-nos no espaço do desconhecimento (as questões a que me refiro são em relação às diferentes verdades com que nos vamos deparando).
Não me parece que estejamos em desacordo,apenas questões de expressão e interpretação.

Isobel disse...

A realidade não vende, daí a deturpação da mesma.
A questão dos jornais gratuitos é preocupante porque, para além de tudo mais, apresentam, por vezes, erros (e falo de erros de falta de cultura e conhecimento, não ortográficos).
No entanto, a televisão é gratuita e apresenta os mesmos males.. não há um telejornal que seja completamente isento, hoje em dia.

Midas disse...

Alguém tem de pagar o produto que nos chega ás mãos de graça. Pena é que também se comprem os conteúdos.
Quanto à isenção… parece que não passa de mais um mito.