Estou farto do 000524.
Apenas o suporto por ser o último do dia, adio a viagem, mas é pela noite que esta se torna mais penosa e com ela a incomoda mudança de personagem. A espaços a ilusão é diferente.
Luzes brancas perfilam-se ao longo do corredor alimentando áreas onde se criam ambientes igualmente artificiais.
A tentativa de observar o exterior da carapaça metálica, através do vidro, revela o reflexo do interior, salpicado de focos de luz de cores variáveis que criam ou acrescentam movimento ao reflectido. Podemos definir o momento como se estivéssemos perante duas telas que criam a ilusão de um movimento paralelo, mas em direcções opostas, ilusão apenas possível porque o reflectido no vidro, ao contrário do observado através dele, integra um objecto em movimento.
Quando era pequeno gostava de brincar com comboios, mas nunca pela noite dentro, horas a fio, sem controlar a direcção e intensidade dos movimentos, nunca como passageiro, sim, esse boneco metálico ou de plástico que na melhor das hipóteses representa um número colorido que apenas está ali para acompanhar a nossa aventura.
Paragem em Pombal, são 22:15, olho o placar de informações que acrescenta mais um contributo à reflexão: “Hora prevista 21:54”.
O gato que viaja de frente para mim, a uma distância de três filas, permanece tranquilo, nada incomodado por se encontrar enclausurado numa jaula de plástico que delimita o seu espaço no interior da carapaça metálica. Estou certo que não tardará a adormecer.
<>20-02-06
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